19 de Outubro, 2022
Fui alertado para um artigo publicado na Nature – a revista internacional da comunidade científica – e os olhos quase me saltaram das órbitas. O título não era propriamente simples. Qualquer coisa sobre “algoritmos de multiplicação de matrizes”. Mas as suas implicações tiveram eco por todo o Twitter: o machine learning está a ficar melhor. Em linguagem corrente: os computadores estão cada vez melhores a ensinar outros computadores a trabalhar mais depressa. Em última análise, tudo está prestes a tornar-se “exponencial” e as implicações para os diferentes setores e países são enormes.
Há alguns anos a expressão “quarta revolução industrial” andou a circular pela boca dos futuristas. Para muitos observadores, era só mais um termo da moda. Sim, os computadores e a internet estavam a criar um novo tipo de revolução industrial. E então?! Mas rapidamente se tornou muito claro que os negócios e a indústria estavam a ser acelerados como nunca foram, e as coisas iriam tornar-se cada vez mais rápidas.
Já começamos a ver isto tornar-se realidade. O termo “computação ubíqua” entrou no léxico, à medida que os computadores nos foram rodeando, nos nossos bolsos, pulsos, carros e eletrodomésticos. Partes significativas da nossa vida têm já a capacidade de ser “smart“, incluindo a iluminação das nossas casas.
Novos tipos de videojogos e experiências estão a surgir sob a forma de Extended Reality (XR). A edição genética e a biologia sintética estão a abordar as doenças do futuro. É inevitável que a nanotecnologia e a “ciência dos materiais” se foquem na crise climática, a par das novas soluções energéticas, como a “fusão” nuclear – tudo desenhado, quem sabe, com a nova computação quântica. Mas mais próximo ainda está o hidrogénio verde, que poderá fornecer energia para o transporte aéreo do futuro.
“Está lançada a corrida. Estará Portugal prestes a ultrapassar a Estónia como o próximo Tigre Tecnológico? Tudo indica que sim.”
Para países como Portugal, a consequência destas tendências é óbvia: no futuro, a dimensão do país e da economia, a escala populacional – nada disso terá importância. Desde que o país consiga capturar o poder da computação e da internet, não há um limite imposto pelo tamanho da economia. E isso já foi demonstrado pelo menos num país europeu: a Estónia.
Com uma população de apenas um milhão, a “E-stonia“, como se tem auto-designado, através da sua política “Tiigrihüpe” (Salto do Tigre), tinha posto 97% das suas escolas online até 1998. Em 2000, a Estónia foi ao ponto de declarar que o acesso à internet é um Direito Humano Fundamental. Isto, quando apenas 1,7% do mundo tinha acesso à internet.
A forma como o país usou as suas políticas de digitalização para alavancar a economia não pode ser subestimada. Graças ao programa “E-residency“, praticamente toda a gente pode abrir uma conta bancária e criar um negócio no país.
Todas estas políticas ajudaram a Estónia a captar grandes empresas tecnológicas, como o Skype, a Wise, a Bolt e a Pipedrive. Hoje, o setor high-tech representa 15% do PIB.
Mas a Estónia não está sozinha. Na Europa, Portugal é o novo “e-miúdo” do bairro.
A Farfetch foi o primeiro unicórnio em Portugal, em 2015, seguido da OutSystems e da Talkdesk em 2018, depois a Feedzai, a Remote, a Sword Health e a Anchorage Digital, em 2021. E a estes, juntam-se a SaltPay, a Unbabel e a Sensei. Portugal está a ultrapassar a Espanha, a Itália e a Grécia, como país de startups tecnológicas.
Além disso, está a tornar-se um destino para os clusters tecnológicos verdes do futuro. Lisboa foi nomeada Capital Verde da Europa em 2020 pela Associação Económica Europeia.
A combinação destas tendências na tecnologia e na atração de empresas está a contribuir fortemente para a economia. Quem precisa de ser um país grande, quando se pode movimentar à velocidade dos computadores mais rápidos do planeta?
Está lançada a corrida. Estará Portugal prestes a ultrapassar a Estónia como o próximo Tigre Tecnológico? Tudo indica que sim.
Artigo de autoria de Mike Butcher, originalmente publicado no jornal Diário de Notícias.
Autor:
Atlantic Bridge