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Conheça o Lobo-Ibérico: Animal Protegido em Portugal

23 de Janeiro, 2023

Conheça o Lobo-Ibérico: Animal Protegido em Portugal

Esse belo animal é tido por muitos como símbolo português, sendo protegido por lei no país há mais de duas décadas.
This beautiful animal is considered by many to be a Portuguese symbol
Leitura: 9 min

Ao viajar pelo norte de Portugal, se tiver muita sorte, poderá ter uma visão que certamente ficará marcada na sua memória: a de um lobo-ibérico. Esse belo animal é tido por muitos como um símbolo português, apesar de também estar presente na Espanha. Em Portugal, ele é protegido por lei há mais de duas décadas. Além disso, diversas instituições nacionais se empenham em preservar essa subespécie, desenvolvendo projetos de conscientização em comunidades locais e promovendo o ecoturismo. Apesar dos esforços, ainda é um dos animais mais ameaçados do país. Recentemente, um projeto de ampliação do parque eólico de Vieira do Minho, da EDP, recebeu uma decisão desfavorável da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), na avaliação do estudo de impacto ambiental, justamente por ameaçar sua população.

Ancestral dos cães, este é o último grande predador do país, conhecido pela sua força, inteligência e agilidade. Desempenhou um papel importante na cultura e história portuguesa. Inspirou lendas, provérbios, fábulas e canções. Nesse artigo vamos desmistificar a figura assustadora do lobo-ibérico e explicar como Portugal tem se esforçado para protegê-lo. Siga nossas pegadas e conheça melhor esse animal que poderá cruzar o seu caminho em suas andanças pelo país!

Conheça alguns dos principais símbolos de Portugal

Lobo-ibérico
Lobo-ibérico de Portugal

Lobo-ibérico: símbolo de Portugal?

Qual o animal símbolo de Portugal? Muitos responderão que é o galo, por sua presença icônica, associada à lendas nacionais, e tão presente nas lojas de souvenir do país. No Porto, o dragão está presente no brasão da cidade, em monumentos e é o mascote do seu clube de futebol. No entanto, o lobo-ibérico, também é tido por muitos como um símbolo nacional português e habita a região há milhares de anos. Inclusive, foram encontradas representações do animal no núcleo de arte rupestre do Parque Arqueológico do Vale do Côa.

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Como identificar um lobo-ibérico

O canis lupus signatus, nome científico do lobo-ibérico, é uma subespécie do lobo cinzento e grande predador na Península Ibérica.

Aparência

É menor que o lobo comum. Possui pelagem amarelo-acastanhada, com manchas negras na parte anterior das patas dianteiras. Essa pelagem se altera ao longo da vida no animal e também de acordo com as estações do ano. São mais escuros quando mais jovens e mais peludos no inverno.

Quando adultos podem medir até 180 centímetros e pesar cerca de 40 quilos. As fêmeas são geralmente menores que os machos. Seu tamanho se assemelha ao de um cão da raça Pastor Alemão, sendo muitas vezes confundido com cães selvagens.

Alimentação

Carnívoro, alimenta-se de presas herbívoras de grande porte como cervos, corças e javalis. Graças à sua capacidade de adaptação, sua alimentação pode se modificar em função do local onde ele vive. Por isso, nas regiões em que suas presas naturais são escassas, esses animais podem comer pequenos roedores, galinhas, coelhos, vacas, ovelhas e até cavalos, que encontram nas proximidades das povoações.

Uma curiosidade: ingerem em média de 3 a 5 kg de carne por dia. Entretanto podem passar vários dias sem comer. Também possuem a capacidade de consumir até 10kg de carne em uma refeição, aproveitando ao máximo todo o alimento disponível.

Comportamento

Vivem em alcateia, formada pelo casal reprodutor e seus descendentes. Reproduzem-se uma vez por ano, podendo ter entre 2 e 11 filhotes, que nascem nos meses de maio e junho.

Costumam habitar regiões com baixa densidade demográfica, ou seja, preferencialmente longe do homem, o que tem sido cada vez mais difícil por conta da humanização das paisagens.

Importância do lobo no ecossistema

Superpredador, o lobo controla as populações das suas presas silvestres, diminuindo a ocorrência de doenças nas espécies das quais se alimenta (tendem a caçar a exemplares fracos ou doentes).

Em algumas regiões, o javali representa mais de 40% da alimentação dos lobos. Ao consumir javalis e veados, reduz os prejuízos que estes causam nas culturas agrícolas e florestais. Também evitam que transmitam ao gado doenças como a tuberculose e a brucelose. Além disso, diminui os números de outros carnívoros, como a raposa, a gineta, o texugo ou a fuinha, minimizando o impacto destes nos animais domésticos e na caça.

Quantos lobos existem em Portugal?

Em toda a Península Ibérica existem cerca de 2.300 lobos-ibéricos. O último censo nacional da espécie foi publicado em 2005. Na altura existiam cerca de 300 lobos e 51 alcateias confirmadas em Portugal.

Um novo censo foi realizado entre 2019 e 2021, e os resultados deverão ser divulgados no final de 2023. “A expectativa é a de que, a população se mantenha em termos numéricos, embora possa haver novidades em relação à localização destes animais”, adianta Isabel Ambrósio, do Grupo Lobo.

Onde vivem os lobos-ibéricos?

O lobo ibérico vive especificamente na Península Ibérica, em Portugal e na Espanha. Em Portugal vivem em dois núcleos, na região Norte. A norte do rio Douro, próximos à Bragança (Parque Natural de Montesinho) e Vila Real. Ao sul do rio, em Aveiro, Viseu, Guarda.

No Nordeste Transmontano, graças à sua biodiversidade e número satisfatório de presas selvagens, são registrados poucos casos de ataques contra animais domésticos.

No Vale do Côa, projetos de recuperação ambiental (rewilding) têm atraído animais de diversas espécies, incluindo esta subespécie de lobo.

Também existem lobos a habitar o concelho de Mafra, a 30 km a Norte de Lisboa. Eles fazem parte do Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI), um centro educativo e santuário que abriga atualmente 8 lobos que não podem viver na natureza.

Um dado curioso: os lobos podem percorrer dezenas de quilómetros e colonizar locais onde antes não existiam, bem como retornar a outros anteriormente ocupados. Em 2021, um lobo-ibérico voltou a ser visto em Castelo Branco, distrito onde já havia sido dado como extinto. Estima-se que o lobo-ibérico possa percorrer uma distância média de 34 km. Por isso, se avistar um lobo em uma região que não tenha sido mencionada anteriormente, não se assuste.

Por que o lobo-ibérico está em risco de extinção?

Atualmente, o que mais coloca o lobo em vias de extinção é a perseguição sofrida por parte de caçadores e de pecuaristas, motivada pelo desejo de impedir ataques ao gado, por ignorância ou medo.

O declínio da população de lobos da Península Ibérica começou a ser notada no final do século XIX. O aumento da atividade agrícola levou ao desaparecimento da vegetação nativa e isso fez com que as presas naturais do lobo se tornassem escassas. Na falta de corças e javalis, estes predadores passaram a viver perto de aldeias e fazendas, e o rebanho doméstico tornou-se seu principal alimento. Por isso, passaram a ser perseguidos pelos homens. O veneno, o tiro e as armadilhas são os principais motivos do declínio do lobo-ibérico.

Outra causa apontada pelos ambientalistas é a falta de locais de refúgio e a destruição dos ecossistemas com a construção de barragens e parques eólicos. Com mais estradas, também cresce o número de acidentes envolvendo estes animais: 35% das mortes de lobo são por atropelamento.

O lobo-ibérico é uma espécie que já desapareceu da metade da Península Ibérica. Em Portugal, a espécie está classificada como Em Perigo (EN), de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

Os lobos podem atacar um homem?

Não. Os lobos não são perigosos para as pessoas. Eles têm medo do homem, evitam a sua presença e toda a perturbação que ela provoca. “O único registo na Europa de ataque de um lobo a um ser humano, ocorreu há décadas, e o animal estava doente, era portador do vírus da raiva”, explicou Isabel Ambrósio, do Grupo Lobo.

Muitos mitos ajudaram a construir (e reforçar) uma imagem do lobo como um ser cruel e perigoso. Quem nunca leu contos infantis em que o lobo aparece como vilão? Apenas para citar alguns: Chapeuzinho Vermelho”, “Os Três Porquinhos”, “Pedro e o Lobo”. Bem antes dessas histórias terem sido escritas, o cristianismo já usava os termos “lobo” e “cordeiro” como metáfora para conceitos opostos: “o bom pastor precisa proteger os seus cordeiros dos lobos”. Atualmente, a ONGA Grupo Lobo trabalha para desconstruir essa ideia.

A caça ao lobo é permitida em Portugal?

Não. O lobo-ibérico possui o estatuto de espécie estritamente protegida em Portugal, de acordo com a Lei de Protecção ao Lobo-Ibérico (Lei n.º 90/88 de 13 de agosto e Decreto-Lei 54/2016 de 25 de agosto). É proibido o seu abate, captura, detenção, transporte, comercialização, assim como a exposição de exemplares, a perturbação ou a destruição do seu habitat. Também é expressamente proibido criar estes animais, como de estimação, algo que por vezes pode acontecer por desinformação, uma vez que são confundidos com cães domésticos.

Para evitar a caça, o governo português também indeniza os criadores de gado pelos prejuízos causados pelos lobos. A validação dos ataques é feita pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Os pecuaristas devem seguir regras estipuladas por lei para terem acesso às indenizações.

Como proteger o lobo-ibérico?

Preservar o habitat natural do lobo é o primeiro passo para a conservação da espécie. A curto prazo, a educação e sensibilização das comunidades são a maneira mais efetiva de evitar a diminuição das populações.

O lobo ibérico consegue coexistir com as atividades humanas, incluindo a pecuária, desde que o gado esteja devidamente protegido. É preciso promover alternativas para proteção dos rebanhos.

O uso de cães de gado e de vedações à prova de lobo são uma alternativa para evitar ataques. Através do programa Cão de Gado, o Grupo Lobo disponibiliza de raça nacional aos pastores, para que estes consigam proteger os seus rebanhos. Entre as raças mais utilizadas no projeto estão o Cão de Castro Laboreiro e do Cão da Serra da Estrela (foto).

Cão da raça Serra da Estrela, usada para proteger o gado de ataques de lobo-ibéricos.
Cão da raça Serra da Estrela, usada para proteger o gado de ataques de lobo- ibéricos.

Onde ver o lobo-ibérico em Portugal?

O lobo evita o contato com o homem, por isso não será fácil encontrá-lo em seu habitat natural. Se deseja ver este animal na natureza, uma alternativa mais simples é visitar o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI), do Grupo Lobo. Com alguma sorte, poderá observar esses animais em ambiente semi-natural.

Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI)

O Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI) foi criado pelo Grupo Lobo em 1978. Não se trata de um zoológico, mas sim de um santuário que ocupa uma área de 18 hectares no concelho de Mafra. Abriga atualmente 8 lobos que já não podem viver em liberdade. São animais vítimas de armadilhas, de cativeiro ilegal, de outros parques e jardins zoológicos.

No CRLI é possível caminhar ao longo de um trilho que passa pelos diversos cercados existentes no local, para a observação dos lobos residentes em condições semelhantes às do seu habitat natural. A visita é guiada por especialistas, mas não é totalmente garantido ver o animal. A chance de avistá-los está em torno de 50%, sendo mais provável nos dias mais frios.

O espaço abriga ainda exposições e um centro de interpretação. “É um programa muito interessante, ainda que você não consiga ver o lobo na natureza”, garante Isabel.

Marque aqui a sua visita guiada.

ONGA Grupo Lobo

Fundado em 1985, o Grupo Lobo é uma associação não-governamental de ambiente (ONGA), independente e sem fins lucrativos. É o responsável pelo Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI). Atua totalmente em prol da preservação do lobo-ibérico e do seu ecossistema em Portugal. Além de desenvolver projetos de sensibilização e educação ambiental, o Grupo Lobo também ajudou a desenvolver e implementar leis de proteção a estes animais.

O Grupo Lobo funciona à base de apoios e donativos. Deseja ser sócio da associação ou apadrinhar um lobo? Faça-o clicando aqui.

ONG Rewilding Portugal – Projeto Life WolFlux

Proteger o lobo-ibérico é uma das várias missões dessa organização sem fins lucrativos, que é parceira da Rewilding Europe, fundada em 2011. Desde 2019 se empenha em fortalecer um corredor de vida selvagem de 120 hectares no Grande Vale do Côa. A Rewilding Portugal busca criar as condições para uma restauração do habitat em que a natureza cura a si mesma, reparando o que foi prejudicado, chegando assim ao restauro da paisagem e à preservação dos animais selvagens, incluindo o lobo-ibérico.

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*Silvia Resende é jornalista na Atlantic Bridge. Baiana, chegou a Portugal em 2015 para construir uma nova vida junto com a sua família. É graduada em Comunicação pela UFBa, no Brasil, e Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto. Já trabalhou como apresentadora de TV, repórter, produtora de eventos, relações-públicas e guia de turismo no Porto. Adora viajar e desbravar o patrimônio cultural e natural de cada lugar por onde passa. Já visitou o CRLI e recomenda-o aos seus leitores.

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